MUSICOTERAPIA: UMA INOVAÇÃO NO TRATAMENTO TERAPÊUTICO -Zenilda Portela Azevedo de Sousa




 MUSICOTERAPIA: UMA INOVAÇÃO NO TRATAMENTO TERAPÊUTICO


                                                                           Zenilda Portela Azevedo de Sousa*

Nydia do Rêgo Monteiro**

RESUMO:

Este artigo mostra que a Musicoterapia se ocupa do estudo complexo som e ser humano. Do ponto de vista terapêutico, ela é uma disciplina paramédica que estuda o som, a música e o movimento, para produzir efeitos regressivos e abrir canais de comunicação, sendo que através destes promova-se o processo de treinamento e recuperação do paciente para a sociedade. Sendo assim este trabalho tem como objetivo destacar a importância da Musicoterapia dentro do tratamento terapêutico, destacando seu histórico, conceitos, finalidade do uso da música e o papel do musicoterapeuta. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica com o intuito de aprofundar informações teóricas a respeito dessa temática e proporcionar um estudo mais aprofundado nessa área.


PALAVRAS-CHAVE: Musicoterapia. Tratamento terapêutico. Música. Recuperação.


ABSTRACT:

This article shows that music therapy is concerned with the study sound complex and human. From a therapeutic standpoint, it is a paramedical discipline that studies the sound, music and movement, to produce regressive effects and open communication channels, and through them to promote the process of training and patient recovery for society. Therefore this paper aims to highlight the importance of music therapy within the therapeutic treatment, highlighting its history, concepts, purpose of use of music and the role of the music therapist. A literature search in order to deepen theoretical information about this subject and provide further study in this area was performed.


KEYWORDS: Music therapy. Therapeutic treatment. Music. Recovery.



INTRODUÇÃO:

A musicoterapia é uma ciência recente, em desenvolvimento e crescimento constante, não só no Brasil, mas em todo o mundo e temos visto aumentar consideravelmente, a curiosidade das pessoas em relação a essa nova ferramenta que auxilia os seres humanos a conquistarem uma melhor qualidade de vida, através do autoconhecimento e autocontrole.     Ela ajuda a restabelecer o equilíbrio
_____________
*Aluna do curso de Especialização em Musicoterapia da Universidade Federal do Piauí-UFPI.
** Professora Orientadora
integral (físico, psicológico e social) das pessoas com necessidades, patologias e problemas diversos.
Sendo assim, esse artigo surgiu a partir da necessidade de informar de forma abrangente e ao mesmo tempo coesa e concisa sobre a Musicoterapia. O mesmo tem como objetivo geral: Compreender o conceito de Musicoterapia, seus usos e fundamentos teóricos e como objetivos específicos: Identificar a Musicoterapia como ciência; Distingui-la como uma terapia que não utiliza apenas a música, mas os sons e os movimentos para facilitar a expressão emocional e corporal dos indivíduos num contexto terapêutico e reconhecer a importância da Musicoterapia no tratamento de patologias dos pacientes.
A metodologia empregada no trabalho foi uma pesquisa bibliográfica onde buscou-se aprofundar os conhecimentos teóricos a respeito dessa temática tão discutida atualmente. A mesma contou com autores como:
Espera-se também através desse trabalho fornecer subsídios e informações para todos os profissionais das mais diversas áreas que utilizam a música e os sons em seu trabalho, conscientizando-os dos efeitos causados nas pessoas que podem contar com a Musicoterapia.

2  A MUSICOTERAPIA: UMA BREVE HISTÓRICO

A música é, sem dúvida, reconhecida como meio terapêutico, desde a Antiguidade até nossos dias. O uso da música para combater enfermidades é tão antigo quanto a música.
Papiros egípcios datados de cerca de 1550 aC atribuíam à música influência sobre a fertilidade da mulher. Temos David tocando lira para acalmar o Rei Saul, Josué e as trombetas que derrubaram as muralhas de Jericó, permitindo assim sua entrada na cidade. (BARANOW, 1999, p.9)
Os exércitos antigos tinham sempre a música à frente das tropas de batalha. Cada exército marchava para a luta sob um determinado som; os escoceses tocavam as gaitas de fole, os ingleses, trompetes e os franceses, tambores.
Durante a Primeira Guerra Mundial, os hospitais dos Estados Unidos da América contrataram músicos profissionais como ajuda musical, após comprovar o efeito relaxante e sedativo nos doentes de guerra produzido pela audição musical. Apesar de todos esses fatos, somente perto da segunda metade do século XX, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), devido à grande quantidade de soldados feridos e inúmeros traumas jamais vistos, houve início efetivo da utilização científica da música, dando origem à Musicoterapia.  (BARANOW, 1999. p.10)


Começou a se formar um esquema mais organizado na utilização da música na reabilitação e recuperação dos soldados feridos, o que acabou gerando equipes para o estudo dos efeitos terapêuticos da música, de como e porque eles eram alcançados.
No Brasil, um dos marcos do surgimento da Musicoterapia foi o trabalho de professores de música na Educação Especial. Em 1970, teve início o primeiro curso de Musicoterapia no Brasil. A Faculdade de Educação Musical do Paraná, atual Faculdade de Artes do Paraná criou a especialização em Musicoterapia para educadores musicais graduados. Em 1972, no Rio de Janeiro, abriu-se o primeiro curso de Graduação em Musicoterapia, reconhecido pelo MEC em 1978. (CHAGAS, 2008, p. 38-39).

3 DEFINIÇÕES DE MUSICOTERAPIA

A Musicoterapia possui diversas definições. Nos Estados Unidos, a mais utilizada é a definição apresentada há anos atrás pela National Association for Music Therapy (NAMT): “Musicoterapia é a utilização da música para alcançar objetivos terapêuticos: recuperação, manutenção e melhoria da saúde física e mental”(NAMT, 1980, p. 1). Embora seja muito citada, esta definição não é universal. Muitos terapeutas construíram sua própria definição e quase todas as associações de musicoterapia estrangeiras criaram uma definição oficial para seu país que reflete os conceitos e as práticas de seus membros.
De acordo com Rolando Benenzon(1985) apud Baranow (1999,p. 12), Musicoterapia é:
A Musicoterapia é o campo da medicina que estuda o complexo som-ser humano-som, para utilizar o movimento, o som e a música com objetivo de abrir canais de comunicação no ser humano, para produzir efeitos terapêuticos, psicoprofiláticos e de reabilitação no mesmo e na sociedade.



Já para Maristela Smith apud Baranow (1999, p.12), a Musicoterapia é definida assim:
A Musicoterapia, ciência que utiliza elementos sonoro-rítmico-musicais no tratamento, reeducação, reabilitação e recuperação de indivíduos portadores das mais diversas patologias ou ainda na área preventiva; procura estabelecer uma relação de equilíbrio entre as três áreas de conduta humana: mente, corpo e mundo externo.


Diante de tantas definições, o que não se pode deixar de enfatizar é que a Musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e/ou estabelecer funções do indivíduo para que ele/ ela possa alcançar uma melhor integração intra e/ou interpessoal e, em consequência, uma melhor qualidade de vida, pela prevenção, reabilitação ou tratamento.
Ainda de acordo com a Federação Mundial de Musicoterapia- 1996 é descrita a seguinte definição de Musicoterapia:

Musicoterapia é a utilização da musica e/ou de seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, num processo para facilitar e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas.


Cada definição de Musicoterapia reflete em um ponto de vista muito específico sobre o que é música, sobre o que é terapêutico na música, sobre o que é terapia e como a música se relaciona com ela, e porque as pessoas precisam de música e de terapia para se manterem saudáveis.

4 A MÚSICA E SUA FINALIDADE DENTRO DA MUSICOTERAPIA

A música consiste em sons e vibrações organizados; ela é energia e matéria auditiva em movimento. Portanto, ela possui propriedades físicas e acústicas que podem ser utilizadas com propósitos terapêuticos.
A música atinge diferenciadamente áreas de nossa psique que dificilmente são atingidas por outras fontes de estímulos, como uma mensagem a ser usada terapeuticamente e manifesta sensibilidade, emoção, timbres diversos e ritmos, melodias e harmonias, numa espécie de linguagem emocional, levando-nos a reagir numa grande e variável escala, em áreas e percepções somente experienciadas através dela.
Na musicoterapia utilizamos esses efeitos que a música pode produzir nos seres humanos nos níveis físico, mental, emocional, e também social, atuando como um facilitador da expressão humana, dos movimentos e sentimentos, promovendo alterações que levem a um aprendizado, uma mobilização e uma organização interna que permitam ao indivíduo evoluir em sua busca, seja ela qual for. BARANOW (1999, p.14)

Trabalha-se não só com a música em musicoterapia, mas com sons e movimentos; e sejam eles agradáveis ou não ao ouvirmos, quando produzidos pelos pacientes é a sua expressão, o que ele deseja estar emitindo ou é capaz de estar expressando no momento e, portanto é o material de trabalho do musicoterapeuta. A música representa uma defesa ante situações paranóides e melancólicas. Todos conhecemos, por experiência própria, o fato de assobiar na escuridão, sobretudo quando a esta acompanha o silêncio e a solidão; assim, tenta-se mediante o som, dissipar a ansiedade de paranóide, criando a ilusão de um grupo de apoio.

Certos valores psicológicos da música têm tal importância quando aplicados em pacientes com malformações, uma vez que o seu aspecto criativo (da música) permite uma individualidade no desempenho, que mesmo o deficiente físico pode participar com certo grau de êxito, o que serve para compensá-lo de sua deficiência, pelos sentimentos de autoconfiança e responsabilidade despertados. Ouvir ou fazer música são atividades que dão prazer a esses pacientes. Para que possam tocar instrumentos, há necessidade de se colocarem dispositivos especiais que possibilitem um desempenho satisfatório, utilizando-se diferentes técnicas musicais, no alcance dos objetivos terapêuticos. (LEINIG, 1977, p.126)




É indiferente se o som ou música resultantes são bonitos ou feios, afinados ou desafinados, de boa qualidade ou má qualidade, pois não são julgados segundo regras estéticas. A intenção do paciente na produção sonora nem sempre corresponde à sua expressão, mas esteja o indivíduo querendo ou não fazer música, o som que ele produz é a sua música e se torna o material trabalhado em terapia.
Segundo Benenzon apud Baranow(1999, p.14), o uso indiscriminado e sem conhecimento da música pode trazer efeitos negativos que no decorrer do tempo podem se converter num perigo para a saúde humana. Nossa civilização, que se caracteriza justamente pela massificação dos meios de comunicação, começa a estruturar lentamente uma das patologia mais graves que é a incomunicação (tendência narcísica); e paradoxalmente, a música contribui também para essa patologia.

5 O PAPEL DO MUSICOTERAPÊUTA

O musicoterapeuta, devido à sua ampla formação teórica e prática, pode estar atuando em diversas áreas, nas mais diversas especialidades, num mercado profissional que tem se mostrado cada vez mais receptivo e em expansão, tanto nos casos quais os tratamentos convencionais têm se mostrado insuficientes, como nos casos em que o atendimento multidisciplinar é necessário, ou simplesmente na busca de um tratamento abrangente e diferenciado, no qual novos enfoques e novas formas de comunicação irão facilitar o contato e o vínculo terapêutico com melhores resultados.
O trabalho do musicoterapeuta pode ser realizado em:
·         Instituições: de saúde física e mental, públicas, privadas ou beneficentes, para atendimento individual ou em grupo com os pacientes ou com os profissionais que realizam trabalhos nas demais áreas.
·         Clínicas e consultórios particulares: em atendimentos individuais ou em grupo, em diversas patologias.
·         Indústrias e Empresas: normalmente auxiliando e suprindo necessidades do setor de Recursos Humanos ou na disponibilização da música funcional (mais conhecida como “música ambiente”).
·         Hospitais: atuando nas diversas alas (UTI, pediatria, oncologia, pacientes terminais e em coma, hemodiálise etc.) individual ou em grupo, ou realizando atendimento a médicos, enfermeiros e demais funcionários, visto o desgaste causado pelas imposições diárias nessas profissões.
·         Comunidades: realizando atendimento na área social, com menores carentes ou infratores, controle da natalidade, presídios, favelas etc.
·         Ensino: no atendimento nas salas de aula (crianças e adolescentes) ou com as classes especiais de ensino (alunos portadores de deficiências) e em faculdades, universidades e demais instituições de ensino, ministrando aulas, cursos e realizando pesquisas.

É um trabalho muito rico, no qual a perspectiva é a dinâmica de conjunto e é analisada e reconhecida a interdependência dos múltiplos aspectos. O musicoterapeuta tem que dominar o instrumento musical ou, ainda, um determinado aspecto da música. Isto é, o musicoterapeuta deve ser antes de tudo um terapeuta, com um grande conhecimento teórico e prático da utilização do complexo mundo sonoro, musical e do movimento. Para estar em condições de trabalhar em Musicoterapia é necessário, depois ou durante sua formação curricular, submeter-se, por um lado, a um tratamento psicoterapêutico enfocado no conhecimento e conscientização dos aspectos inconscientes profundos, e, por outro, a um tratamento musicoterapêutico didático.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após realização desse trabalho percebe-se a importância da musicoterapia no processo terapêutico, onde o terapeuta observa o cliente em várias experiências musicais para compreendê-lo melhor como pessoa e para identificar que problemas, necessidades, preocupações e recursos o cliente traz para a terapia.
A musicoterapia é um processo que requer tempo, é uma sequência de experiências que levam a um estado desejado, e não um único evento que produz um efeito.
Portanto, definir as competências específicas de um musicoterapeuta tem sido um importante avanço num campo que é tão interdisciplinar por natureza. É necessário que o futuro musicoterapeuta saiba delimitar no material terapêutico o que é conteúdo seu e do paciente para serem corretamente trabalhados em sessão. Todos os terapeutas necessitam de uma busca quase que contínua pelo autoconhecimento.


REFERÊNCIAS

BENENZON, R. O. Manual de Musicoterapia. Rio de Janeiro: Enelivros, 1985.

CHAGAS, Marly. Musicoterapia: desafios entre a modernidade e a contemporaneidade – como sofrem os híbridos e como se divertem. Rio de Janeiro: Manuad X: Bapera, 2008.

LEINING, C. E. Tratado de Musicoterapia. São Paulo: Sobral Editora Técnica de Artes Gráficas, 1977.

SMITH, M. P. C. O que é Musicoterapia: os Dois Lados – Da Observação à Reflexão. In Fórum Catarinense de Musicoterapia. Associação de Musicoterapia de Santa Catarina, 2001, Florianópolis, Anais. Florianópolis: Acamt, 2001.

VON BARANOW, Ana Léa Vieira Maranhão. Musicoterapia: Uma Visão Geral. Rio de Janeiro: Enelivros, 1999.





Nenhum comentário: