sábado, 17 de outubro de 2009

O CÉREBRO DO MÚSICO COMO REFERENCIAL NAS PRÁTICAS MUSICOTERÁPICAS DO SÉCULO XXI Baseado em pesquisas atuais sobre o cérebro do músico e os efeitos da música em outros cérebros este estudo busca referências sólidas na aplicação da musicoterapia neste século. O objetivo é trazer novas possibilidades e referenciais científicos para o profissional musicoterapeuta envolvido com pacientes neurológicos e outros em equipe multidisciplinar. Auxiliando também na comunicação entre membros de uma equipe científica com diversas formações, mas que compartilham objetivos terapêuticos a serem atingidos com os mesmos pacientes em tratamento. Assim estes estudos tem por base pesquisas neurocientíficas de: Altenmuller (2001), Bigand (2000), Levitin (2007), Sacks (2007), Peretz e Zatorre (2003) e a aplicação adaptada dos mesmos no fazer musicoterápico do século XXI. Palavras-Chave: Musicoterapia, cérebro do músico, pacientes neurológicos.
Especialista em Musicoterapia –CBM-RJ-1998.Co-autora projeto de Especialização em Musica-Musicoterapia-UFPI-2005.Musicoterapeuta do CEIR-Centro Integrado de Reabilitação Física de Teresina-PI.Presidente AMT-PI-Associação de Musicoterapia do Piauí. E-mail-nydiadoregomonteiro@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO O interesse sobre cérebro e música encontra-se em crescimento, pois nunca se pesquisou tanto sobre tal assunto no mundo como na atualidade. Neste trabalho focamos mais os pioneiros desta área, tais como: Eckhart O. Altenmuller (Instituto de Fisiologia da música e da medicina da Arte–Hannover, Alemanha), Emmanuel Bigand (Instituto de Pesquisa e Coordenação acústica/Música-Dijon-Paris), Isabelle Peretz(Laboratório de Neuropsicologia da Música da Universidade de Montreal- Canadá), Robert Zatorre (Universidade McGill-Montreal-Canadá), Schlaug (Universidade de Harvard), Daniel Levitin (diretor laboratório pesquisa MacGill) e o Oliver Sacks. ( neurologista com trabalho de pesquisa com musicoterapeuta) Desta forma, os musicoterapeutas, únicos profissionais que utilizam a música com objetivos terapêuticos, não devem ignorar estas pesquisas. Ao contrário, devem ser utilizadas como aliada para nortear suas ações e fortalecer a credibilidade entre os profissionais da área de saúde. O objetivo proposto por este artigo é trazer novas possibilidades e referenciais científicos para o profissional musicoterapeuta envolvido com pacientes neurológicos e outros em equipe multidisciplinar podendo também auxiliar na comunicação entre membros de uma equipe científica com diversas formações.
1-ATUAÇÃO DA MÚSICA NO CÉREBRO Quadro 1: O cérebro e principais centros de processamento musical CÉREBRO PROCESSAMENTO MUSICAL Córtex préfrontal Criação de expectativas; violação e satisfação das expectativas.Planejamento do tocar, cantar. Córtex prémotor Movimento, bater o pé, dançar e tocar um instrumento. Córtex sensorial Reação tátil a tocar um instrumento . Córtex auditivo As primeiras etapas da audição de sons, a percepção e a análise de tons. Córtex visual Leitura de música, observação dos movimentos de um executante. (incluindo os do próprio) Corpo caloso Liga os hemisférios esquerdo e direito. Núcleo accumbens Reações emocionais à música Amígdala Reações emocionais à música Hipocampo Memória para a música, experiências e contextos musicais. Gânglios Basais Órgão de sucessão-geração modelação do ritmo, do andamento e métrica.(Wich, Levitin e Sacks ) Cerebelo Movimentos, como o bater do pé, dançar, e tocar um instrumento. Também envolvido nas reações emocionais à música. Fonte: adaptado de Levitin, 2007.p.276-277.
2- DETALHES RELEVANTES DAS PESQUISAS PARA A MUSICOTERAPIA O cérebro, segundo Herculano-Houzel (2008) representa apenas 2% da massa corporal, consome 20% da energia necessária. A redução de 1% desta energia é suficiente para provocar desmaio ou mal estar. Ou seja, ele é essencial para a ação do ser humano. O Cérebro do músico, segundo Sacks (2007) é o único que pode ser reconhecido sem dificuldades por anatomistas, justamente pelos inúmeros estudos já realizados e comprovados. O mesmo autor ressalta a coordenação de muitas estruturas cerebrais (córtex-motor, núcleo do tálamo, gânglios basais, cerebelo) para haver a atuação do músico. “O músico em sua plenitude é um milagre operacional, mas um milagre com vulnerabilidades singulares e às vezes imprevisíveis”(Marsden apud.Sacks, 2007, p.260). Os estudos cerebrais de músicos acometidos de doenças e com seqüelas também tem sido úteis para desvendar mais os mistérios do cérebro. Os músicos tendem a ter a parte frontal do corpo caloso maior (Schlaug apud Levitin, 2007) e o cerebelo também maior. Aliado a isso há também uma concentração maior de massa cinzenta (contem os corpos celulares, dentritos e axônios e é responsável pelo processamento das informações) nas áreas motoras, auditivas, visuoespaciais do córtex, como no cerebelo (Schlaug apud Sacks,2007). Sluming (Hopen, 2009) com sua equipe da Universidade de Liverpool comprovou maior densidade de substância cinzenta na área de Broca (fala) em músicos de orquestra. Para os músicos esta área também faz a mediação de aptidões visuais e o seqüenciamento de ações motoras rápidas. Descobriu-se também em pianistas profissionais que certas regiões da substância branca são mais desenvolvidas. e conectam partes do córtex cerebral vitais para a coordenação motora dos dedos e áreas cognitivas operadas durante a produção musical (Úllen apud Field, 2008). Bigand (Vieillard,2009) e Peretz(2009) tem investigado simultâneamente e com parcerias internacionais em diversos laboratórios, chegando as conclusões de que são dois os parâmetros musicais relacionados na expressão emocional: andamento e modo. Andamento rápido e modo maior contribuem para expressão de alegria. Andamento lento e modo menor, equivalência emocional negativa. Um modo menor e uma dinâmica estimulante evocam um sentimento de raiva ou de medo (Bigand apud Vieillard,2008). Parâmetros combinados e divergentes, os ouvintes utilizam o andamento para julgar por ser mais simples de processar. Crianças identificam bem cedo os índices emocionais na estrutura musical. Para Peretz (Vieillard,2008) a música não evoca emoções apenas de acordo com a história pessoal de cada um (ISO), mas que ela de fato as provoca. Fritz et all, neste ano apresentaram resultados sobre reconhecimento emocional de três emoções e utilizaram população africana isolada culturalmente, provando exatamente esta percepção universal das emoções relacionadas a estes parâmetros. (em parceria com Peretz).
Complementando estas informações que podem ser utilizadas para reforçar nossos princípios e aplicações musicoterápicas temos: A importância do envolvimento emocional com as músicas por potencializar os efeitos tem sido provada em inúmeras pesquisas. Levitin (2007) ao trazer alguns resultados das pesquisas realizadas na MacGill ressalta que o cerebelo é mais ativado quando as pessoas ouvem músicas familiares. Schmahmann (Levitin,2007) de Harvard, reuniu provas suficientes de que o cerebelo também está envolvido na emoção. Levitin em outra pesquisa realizada com Perry (2007) mostra os resultados quando os pesquisados cantaram suas músicas preferidas: todos cantaram nas alturas sonoras exatas ou próximas das originais, como também nos andamentos. O que reforça também a memória potencializada pela emoção. Quanto à percepção musical e os hemisférios já se comprova: A percepção musical é hierárquica. Segundo Altenmuller (2009) o lado esquerdo do cérebro parece processar elementos básicos como intervalos e ritmos. O direito reconhece características gerais como a métrica e o contorno melódico. Zatorre comprova a mesma afirmação em suas pesquisas (Levitin,2007) com pacientes com lesão temporal direita. Peretz descobriu que o hemisfério direito do cérebro contem um processador do desenho musical que efetivamente traça o contorno de uma melodia e analisa-o reconhecendo posteriormente e o mais importante, está dissociado dos circuitos do ritmo e da métrica do cérebro (Levitin, 2007). Sacks (2007) afirma que em geral as deficiências na percepção da melodia estão associadas a lesões no hemisfério direito. A disseminação do ritmo é muito mais complexa e envolve o hemisfério esquerdo, sistemas subcorticais dos gânglios basais, cerebelo e outras áreas é também destacado por Sacks.
Parte do artigo apresentado no Simpósio Brasileiro de Musicoterapia em Curitiba-PR. Caso você tenha interesse em lê-lo integralmente é só solititá-lo através do meu e-mail

segunda-feira, 12 de outubro de 2009